segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Artigo Divulgado pelo Prof. Juarez Cirino:



Carta aberta a um cientista injustiçado.

1. Antes de tudo, companheiro e irmão de armas Salo de Carvalho, não te aflijas com a injustiça, porque és maior do que o acidente de um concurso público – acidente como acontecimento efêmero, mas também acidente como resultado falho. Se a maioria da banca (2 entre 3 membros) condicionou assinar a ata ao registro da necessidade de anulação do concurso e renovação do processo, então esse concurso é a expressão óbvia de um nada acadêmico, um zero à esquerda implodido por contradições internas insolúveis. Assim caminham as instituições neste País de discursos democráticos encobrindo práticas arbitrárias. Arquivamos a Ditadura, mas ainda não incapacitamos os ditadores: disfarçados de democratas, se apropriaram do poder e usam a coisa pública como se fosse coisa própria. É o que acontece todos os dias na Universidade pública brasileira, em que o mérito acadêmico virou uma espécie de ação entre amigos, que contempla os puxa-sacos e bajuladores que circundam o poder, assim como a hiena circunda o festim do leão.

2. Não obstante tudo isso – ou precisamente por tudo isso –, a luta continua e deve continuar, no caminho da utopia de um mundo mais igual, ou menos injusto. Afinal, o que é, não precisa necessariamente ser – ou, pelo menos, não precisa ser sempre assim. Infeliz da Universidade que rejeita um Salo de Carvalho – que foi reprovado na UFRGS porque não estava entre os amigos do poder –, ou que se esforça, ainda, por rejeitar Jacson Zilio – porque não estava entre os amigos do poder – apesar de aprovado em concurso público para professor de Direito Penal, na UFPR.

3. Salo, eu te conheço desde a tua juventude, quando acompanhavas teu pai, Amilton Bueno de Carvalho – conferencista de escol e rigoroso crítico do sistema punitivo –, em congressos de Criminologia e de Direito Penal. Depois, vieram os merecidos títulos: mestrado, doutorado e pós-doutorado – que acompanhei com alegria – e os inúmeros artigos e livros – que li, com deleite e admiração. Hoje, além de grande advogado criminal, és um brilhante professor de Criminologia e de Direito Penal, que orgulha teu Estado e dignifica teu País. Integras aquela seleta geração de jovens professores aos quais nós, professores mais antigos – digamos, Nilo Batista, Juarez Tavares, João Mestieri e eu – temos a honra de entregar o bastão para continuar a luta pela superação da sociedade desigual em que vivemos, que precisa criminalizar para sobreviver, no atacado, e precisa excluir para dominar, no varejo. Se eu fosse teu examinador, nunca te daria nota menor do que dez – porque conheço teus livros, leio teus artigos e, quando posso, ouço tuas palestras. Por isso, também não compreendo a nota 7,0 de Odone Sanguiné – exceto por razões pessoais ou ideológicas. No primeiro caso, viola a impessoalidade do ato administrativo; no segundo, é uma odiosa privação de direitos por convicção filosófica ou política. Em qualquer caso – e seja qual for a hipótese – estou com você, e não abro, ainda que também esteja rompendo com outros, como é o caso. A amizade não convive com injustiças. Receba meu abraço e minha solidariedade, porque não poderia ser diferente.

Do irmão de luta,
Juarez Cirino.




Artigo disponibilizado pelo Ilustre Doutor Juarez Cirino em redes sociais. 

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