Continuando a abordagem monográfica sobre o Estado de Exceção existente no combate às drogas ilícitas...
O discurso oficial
impressiona com o tamanho lucro e o discurso político travestido de guerra ao
‘inimigo interno’. A imprensa e as autoridades públicas acabam distorcendo a
realidade, para afirmar que o sistema penal não estaria sendo seletivo a certo
extrato social, ainda mais quando prendem ‘referencias nacionais e, também,
internacionais’ com suposto envolvimento no tráfico de drogas: Luiz Fernando da
Costa, Juan Carlos Ramirez Abadia e/ou correlacionam os movimentos sociais de
rebeldia internos e externos (ex. Ligas Camponesas (BR), FARC-EP (CO), ELN
(CO), EZLN (ME) e outros) a ‘narcotraficantes’ e sem ideais de resistência e/ou
rompimento.
Menciona Orlando
ZACCONE de como a mídia oficial expõe a movimentação de capital:
O Fundo Monetário
Internacional calcula que o chamado crime organizado movimenta, por ano 750 bilhões
de dólares, sendo que 500 bilhões de dólares são gerados pelo “narcotráfico”.
No comando deste grande negócio é identificada, em seu aspecto político e
legal, a figura do “narcotraficante”, cujo estereótipo, construído pelo
discurso oficial e divulgado pela mídia, aponta para o protótipo do criminoso
organizado, violento, poderoso e enriquecido através da circulação ilegal e
divulgado pela mídia, aponta para o protótipo do criminoso organizado,
violento, poderoso e enriquecido através da circulação ilegal desta mercadoria,
conhecida em nossa legislação outrora como “entorpecente” e hoje,
genericamente, como “droga”. [1]
Em contrapartida, não há dúvida de que a
população mais vulnerável acaba assumindo o papel de ‘varejistas’ das drogas
ilícitas. São os “vaporzinhos”, “aviaozinhos”, “paviozinhos”, “mulas” e
“biqueiras” reunindo pessoas de todas as faixas de idade, incluindo crianças,
desamparadas das políticas públicas, vivendo em alto grau de miserabilidade, que
veem, nas drogas, a possibilidade de ganhar dinheiro “mais fácil” e uma
alternativa ao mercado de trabalho, para adentrarem na sociedade de consumo.
Não diferente da
análise de Orlando Zaccone que não se resignara a realidade forjada, a
Historiadora da Universidade Federal Fluminense Vera Malaguti BATISTA em seu
livro “Difíceis Ganhos Fáceis” [2] fez a análise do
envolvimento de inúmeros jovens pobres do Rio de Janeiro com as drogas entre os
anos de 1968 a 1988. A Autora qualifica os envolvidos com a distribuição das
drogas como o “inimigo interno” (bandidos, traficantes) e a ideologização em
disseminar o “medo branco” na sociedade brasileira:
Este jovem traficante,
vítima do desemprego e da destruição do Estado aprofundamento do modelo
neoliberal, é recrutado pelo poderoso mercado de drogas. Com a consolidação da
cocaína no mercado internacional, o sistema absorve o seu uso mas criminaliza o
seu tráfico, efetuado no varejo pela juventude pobre da periferia carioca. A
convivência cotidiana com um exército de jovens queimados como carvão humano na
consolidação do mercado interno de drogas no Rio de Janeiro, a aceitação do
consumo social e da cultura das drogas paralela a demonização do tráfico
efetuado por jovens negros e pobres das favelas, tudo me remetia à gênese do
problema que hoje vivemos.[3]
Nenhum comentário:
Postar um comentário