quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O ESTADO DE EXCEÇÃO NO COMBATE AO COMERCIANTE DE DROGAS ILÍCITAS

Continuando a abordagem monográfica sobre o Estado de Exceção existente no combate às drogas ilícitas...



O discurso oficial impressiona com o tamanho lucro e o discurso político travestido de guerra ao ‘inimigo interno’. A imprensa e as autoridades públicas acabam distorcendo a realidade, para afirmar que o sistema penal não estaria sendo seletivo a certo extrato social, ainda mais quando prendem ‘referencias nacionais e, também, internacionais’ com suposto envolvimento no tráfico de drogas: Luiz Fernando da Costa, Juan Carlos Ramirez Abadia e/ou correlacionam os movimentos sociais de rebeldia internos e externos (ex. Ligas Camponesas (BR), FARC-EP (CO), ELN (CO), EZLN (ME) e outros) a ‘narcotraficantes’ e sem ideais de resistência e/ou rompimento.
Menciona Orlando ZACCONE de como a mídia oficial expõe a movimentação de capital:

O Fundo Monetário Internacional calcula que o chamado crime organizado movimenta, por ano 750 bilhões de dólares, sendo que 500 bilhões de dólares são gerados pelo “narcotráfico”. No comando deste grande negócio é identificada, em seu aspecto político e legal, a figura do “narcotraficante”, cujo estereótipo, construído pelo discurso oficial e divulgado pela mídia, aponta para o protótipo do criminoso organizado, violento, poderoso e enriquecido através da circulação ilegal e divulgado pela mídia, aponta para o protótipo do criminoso organizado, violento, poderoso e enriquecido através da circulação ilegal desta mercadoria, conhecida em nossa legislação outrora como “entorpecente” e hoje, genericamente, como “droga”. [1]

 Em contrapartida, não há dúvida de que a população mais vulnerável acaba assumindo o papel de ‘varejistas’ das drogas ilícitas. São os “vaporzinhos”, “aviaozinhos”, “paviozinhos”, “mulas” e “biqueiras” reunindo pessoas de todas as faixas de idade, incluindo crianças, desamparadas das políticas públicas, vivendo em alto grau de miserabilidade, que veem, nas drogas, a possibilidade de ganhar dinheiro “mais fácil” e uma alternativa ao mercado de trabalho, para adentrarem na sociedade de consumo.
Não diferente da análise de Orlando Zaccone que não se resignara a realidade forjada, a Historiadora da Universidade Federal Fluminense Vera Malaguti BATISTA em seu livro “Difíceis Ganhos Fáceis” [2] fez a análise do envolvimento de inúmeros jovens pobres do Rio de Janeiro com as drogas entre os anos de 1968 a 1988. A Autora qualifica os envolvidos com a distribuição das drogas como o “inimigo interno” (bandidos, traficantes) e a ideologização em disseminar o “medo branco” na sociedade brasileira:

Este jovem traficante, vítima do desemprego e da destruição do Estado aprofundamento do modelo neoliberal, é recrutado pelo poderoso mercado de drogas. Com a consolidação da cocaína no mercado internacional, o sistema absorve o seu uso mas criminaliza o seu tráfico, efetuado no varejo pela juventude pobre da periferia carioca. A convivência cotidiana com um exército de jovens queimados como carvão humano na consolidação do mercado interno de drogas no Rio de Janeiro, a aceitação do consumo social e da cultura das drogas paralela a demonização do tráfico efetuado por jovens negros e pobres das favelas, tudo me remetia à gênese do problema que hoje vivemos.[3]






[1] Ibidem, p. 11.
[2] BATISTA, Vera Malaguti, Difíceis ganhos fáceis – drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro, 2ª. ed. Rio de Janeiro: Revan. 2003. 
[3] Ibidem, p. 40. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário